Na Antiguidade, a falta de redes encanadas e esgotos eram supridas com o uso de copos e bacias que permitiam a prática do banho. Geralmente, as pessoas se sentavam em um banco enquanto derramavam pequenas quantidades de água nas partes a serem higienizadas (OS BANHOS, 2009). Os antigos egípcios banhavam-se cerca de três vezes em um só dia, consumiam muito tempo em banhos refrescantes e com o uso de perfumes e óleos aromáticos. Há mais de 3000 anos, o ato de banhar-se era sagrado e parecia ser uma forma de purificar o espírito do indivíduo. Os muçulmanos também não dispensavam o banho como ritual antes das suas preces e as salas de sauna transformaram-se por estas civilizações em áreas políticas e sociais. Mesmo os povos lusitanos aderiram à idéia, e não são poucos os resquícios que ainda se encontram nestes locais (A HISTÓRIA, 2009).
Segundo Sousa (2009), para os gregos o contato com a água integrava o processo de educação dos jovens. De acordo com os inúmeros aspectos da época, o indivíduo bem ensinado tanto dominava a leitura assim como praticava a natação. No Império Romano, que claramente foi influenciado pela cultura grega, aumentou a recorrência do hábito de tomar banho realizando a construção das ilustres termas (Figura 1, p. 22). Cada uma dessas termas consistia em um edifício repleto de vários salões, onde continham vestiários, saunas e diversas piscinas. No entanto, os indivíduos não tinham o menor pudor de se banharem nesses locais públicos (Figura 2, p. 22) (A HISTÓRIA, 2009). Os camponeses mais pobres lavavam o rosto e as mãos apenas com água e como conseqüência, os piolhos e outros “visitantes” predominavam em suas cabeças, e eram disfarçados pelo uso permanente de chapéus ou barretes (A HISTÓRIA, 2009).
Na Idade Média, os banhos passaram a ser olhados com desconfiança e mesmo proibidos em muitas cidades como propagadores de doenças, como a peste, e acreditavam ser os causadores do amolecimento da alma quando praticados com água quente, pois levava à dilatação dos poros e conseqüentemente à facilidade da entrada de doenças no organismo. Dessa forma, o tomar banho se transformou em uma atividade anual e acontecia em um simples barril de água. As limpezas diárias eram feitas pelo uso de panos úmidos. Tinham como hábito de higiene vestir roupa lavada até que ficasse suja, porque existia o conceito que esta serviria como esponja da sujidade. Os dentes eram lavados com um dentífricio (pasta de dente) 100% natural (a urina). A sujeira chegava a tal ponto que, durante a época das descobertas, os europeus eram conhecidos pelos povos que visitavam como mal-cheirosos e porcos (A HISTÓRIA, 2009). Na mesma época, a maioria dos casamentos ocorria no mês de junho. Por essa razão o primeiro banho do ano era tomado em maio; assim, em junho, o odor dos indivíduos ainda estava suportável. Entretanto, como alguns odores já começavam a ser exalados, as noivas levavam buquês de flores junto ao corpo, para disfarçar. Atualmente maio continua sendo o "mês das noivas" e a origem do buquê de noiva pode se esclarecer com essa contextualização.
Os primeiros tratados médicos indicavam na Idade Média os critérios “antigos” da higiene do corpo, a lavagem das mãos e do rosto e limpar as sujeiras das partes visíveis. A água aguçava a visão especialmente quando fresca (VIGARELLO, 1996). Este autor (p. 51) complementa: “Lava tuas mãos e teu rosto com água que acabe de ser tirada e a mais fria que possas encontrar, pois tal loção torna a visão boa, clara e aguçada.”
Outra constatação era que os banhos eram tomados em uma única tina entornada de água quente. O chefe da família era o primeiro a banhar-se na água limpa (Figura 3, p. 23). Depois, sem que a água fosse trocada, vinham os outros homens da casa, por ordem de idade, as mulheres, também por idade e, por fim, as crianças. Os bebês eram os últimos a serem banhados. Quando chegava à hora deles entrar, a água da tina já estava muito suja e era possível "perder" um bebê lá dentro. Esse contexto justifica a expressão em inglês "don't throw the baby out with the bath water", ou seja, "não jogue o bebê fora junto com a água do banho" (CASSIO, 2009).
Durante o século XVII os banhos continuavam sendo considerados algo perigoso. Nessa época, a indústria cosmética teve um enorme avanço, pois os melhores perfumes eram usados para disfarçar o mau cheiro. A roupa não era lavada, apenas sacudida e carregada de perfume. As mãos eram lavadas apenas de três em três dias e lavar o rosto estava fora de questão e para não danificar a pele, pois se acreditava que podia desgastar com lavagens frequentes. Assim, a sujeira era camuflada com enormes camadas de maquiagem, retocada todos os dias. Felizmente, para as narinas mais sensíveis, neste século surge o sabão à base de banha de porco, usado para lavar o rosto e as mãos, assim como as roupas. Somente no século seguinte que o banho foi reconhecido como um meio para se cuidar da saúde (A HISTÓRIA, 2009).
Na segunda metade do século XVIII, os escritores descrevem sobre a limpeza das pessoas ou sobre a falta dela, especialmente sobre o mau cheiro que acompanhava a higiene inadequada. Como se as narinas, insensibilizadas por um fedor de séculos durante os quais ninguém tomava banho, tivessem se sensibilizado com o número consideravelmente pequeno de pessoas com cheiro de limpeza (ASHENBURG, 2008).
Ainda no século XVIII, com os costumes de higiene em voga, nasceram mais dois compartimentos nas residências que até então não existiam, o quarto de banho e o “toilet”, que era o local onde se localizava o vaso sanitário. A princípio, tanto os quartos de banho quanto os vasos sanitários eram privilégios dos mais ricos. Em meados do século XIX, através de tratados médicos, confirmou-se a tendência dos hábitos higiênicos como necessidade básica para a saúde e o banho era incentivado por eles como um ato de limpeza do corpo e da alma. Os cuidados com a pele também podiam ser notados e o principal responsável era o sabonete, que ocupava um lugar de destaque na perfumaria, pois em 1791, um médico e químico francês chamado Nicolas Leblanc, que produziu artificialmente o carbonato de sódio, antes só encontrado em plantas (TRIGUEIRO, 2009).
O conceito enfático de higiene passa a existir apenas no século XIX, na qual os hospitais passam a ser limpos regularmente, assim como outros locais onde possam proliferar doenças. Os manuais de higiene começam a aparecer, aprimorando-se de diversos produtos para melhorar a condição da pele e dos cabelos, as pilosidades tinham que se apresentar curtas, assim como as unhas e a pele lavada com água e sabão. Objetivando evitar as doenças, ficou estabelecido o hábito de lavar as mãos várias vezes ao dia, antes e depois das refeições e as roupas eram lavadas regularmente, abrindo-se para isso lavadouros públicos (A HISTÓRIA, 2009). A higiene era muito restrita para camponeses e operários, a água era coisa rara, e a dificuldade em ir buscá-la restringia seu uso. Por outro lado havia a idéia generalizada de que a água amolecia o corpo, ao passo que a sujeira era sinal de saúde. Entretanto só se fazia uma lavagem das partes do corpo que ficam à mostra, raramente indo além disso (PROST; VICENT, 1992).
Segundo Feijó (2009), após o fim da Segunda Guerra, em 1945, quando uma considerável parte das residências européias teve que ser reconstruída, foram inclusos banheiros abastecidos com água encanada. A França foi a precursora nas inovações sanitárias, seguida pela Inglaterra e Alemanha. O procedimento de reconstrução de várias casas permitiu que os chuveiros fossem distribuídos por toda a Europa, assim, os banhos deixaram de ser um ato público (Figura 4, p. 23) (A HISTÓRIA, 2009).
Mais informações: Artigo de Conclusão de Curso de Lucimara da Silva intitulado: A utilização dos banhos no decorrer da história humana, 2009-2.
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